Sempre me surpreendo quando leio críticas ao sistema de ensino superior alegando que as universidades não estão preparando adequadamente os jovens para o mercado de trabalho. Não sou especialista em educação, mas penso que o mercado é tão dinâmico que as universidades não podem acompanhar, mesmo que desejem. Até bem pouco tempo uma indústria precisava 200 profissionais de nível médio para 20 gestores especializados. Isso ainda é verdade, mas as demandas da indústria e serviços 4.0 estão mudando isso muito rapidamente. Nesse processo acelerado de transição, estamos responsabilizando as instituições de ensino superior (IES) por não entregar um profissional compatível com as demandas, mas talvez não devêssemos.
Formações técnicas e certificações em geral dão conta da grande massa de trabalhadores que as empresas precisam e, a meu ver, elas devem mesmo montar suas próprias plataformas de treinamento com o intuito de atender suas especificidades e estratégias, ou fazer parceria com instituições apropriadas (como muitas já fazem).
No Brasil, a coisa parece pior por conta das dificuldades do nosso ensino fundamental. Esse, sim, precisa de mudanças para ensejar nas crianças a curiosidade e a busca individual e ativa pelo aprendizado (estamos a caminho). Também, por muito tempo pecamos no oferecimento de cursos técnicos médios. Enfim, nossas falhas estruturais tornaram o ensino superior indispensável para atender uma demanda que deveria ser atribuída à formação profissional de nível médio. As universidades não podem ser responsabilizadas pelo desequilíbrio da balança.
O conhecimento humano já é tão extenso e complexo em todos os segmentos que deve ser um esforço considerável montar o currículo dos cursos de graduação universitária de uma universidade de renome. O que dizer, então, da dificuldade de atualiza-los constantemente. Universidades têm a responsabilidade de serem os guardiões do saber e promotores do novo conhecimento, formando especialistas para consultoria e fonte de referências para o presente e para o futuro. Na verdade, elas produzem tanto conhecimento que sequer a gente é capaz de absorver. Não é possível cuidar desse massivo de conhecimento humano e ainda ficar ajustando isso à volatilidade das demandas do mercado.
CADA VEZ MAIS O INDIVÍDUO É O PROTAGONISTA DO SEU DESTINO.
Espera-se que o jovem esteja atento às oportunidades e esteja no domínio de sua própria capacitação. É importante que ele entenda a sua responsabilidade nesse processo desde cedo. É ele que deve se ajustar ao mercado, segmentando e especializando seu conhecimento para aplicá-lo adequadamente às lacunas de desenvolvimento que encontra, e deve ser bem recompensado por isso.
Para sermos mais ágeis, acredito que as IES podem e devem oferecer, ou formar parcerias com cursos de capacitação rápida, com bom conteúdo, e em sintonia com o mercado e, preferencialmente, que isso não seja apenas ofertado como especialização de pós graduação. Afinal, educação é uma necessidade constante e não é possível o ser humano ter que esperar 20 anos para concluir sua capacitação mínima para o primeiro emprego. Até porque, o mercado de trabalho sabe bem que só formação acadêmica não é suficiente. O bom profissional é uma mescla de experiência de mercado, atualização acadêmica e as tão valorizadas soft skills, que deveriam ser estimuladas e desenvolvidas desde a tenra infância.
Em tempo: A USP, UNICAMP e muitas universidades públicas do Brasil, e do mundo, já oferecem em suas plataformas cursos EAD sobre os mais incríveis temas que se possa imaginar, e muitas vezes gratuitos. Ninguém pode negar que a informação e o conhecimento estão disponíveis como nunca, o que é preciso é assegurar que todos que queiram, consigam acessá-los..
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