Como um país com tantas dificuldades quanto o Brasil nos anos 80 conseguiu nos deixar tão para trás? “Em 1980, o PIB per capita da Coreia do Sul era 17,5% do PIB per capita dos Estados Unidos, enquanto o PIB brasileiro era 39%. Quase quatro décadas depois (38 anos), o PIB da Coreia do Sul passou a representar 66% do PIB estadunidense, enquanto o do Brasil representa 25,8%.” Informativo CNI, 2019.
Não sei quanto tempo vai durar a febre hallyu Coreana, mas ela já resolveu o problema da Coreia e ela poderia nos dar boas dicas de como fazer o mesmo no Brasil. A cultura é a alavanca de um país. É através da cultura que se destacam os diferenciais de uma nação, seus talentos, e que viabilizam produtos e marketing capaz de encantar o resto do mundo e seus próprios habitantes. A onda cultural coreana que invade o mercado de entretenimento global inclui novelas, filmes, jogos, livros, moda (k-pop, k-drama e até k-beauty) e se deriva em infinitos objetos de desejos de consumo interno e externo.
Por exemplo, as barracas de rua de lona laranjas - Pojangmacha, que vendem, entre outras coisas, tteokbokki e soju ( um prato feito de massa de arroz e a bebida tradicional coreana) estão por todo lugar. Também são palco constantes nas séries onde um casal tem um encontro informal, amigos têm uma conversa profunda motivada pelo efeito do soju, ou alguém vai lá só para afogar as mágoas. Esses espaços populares fomentam a economia e tornam poético o trabalho do pequeno empreendedor de rua. O mesmo acontece com as casas de frango frito, ou qualquer outra comida típica, que são geralmente um negócio familiar. O que o frango frito coreano tem de tão diferente para despertar o interesse do mundo? Provavelmente nada. O que ele significa é o que conta, e ele nos remetem ao seu povo e sentimentos de pertencimento. Envolve-nos de tal forma que dá uma vontade imensa de experimentar. Se transformam, por fim, em vendas incríveis de produtos pelo mundo afora. Qual seria o nosso equivalente? O pão de queijo, tapioca ou pastel de feira, a cachaça... Porque nosso produto não emplaca lá fora? Falta de uma consistente política de desenvolvimento nacional.
Dos pequenos costumes locais à criação de grandes tendências da indústria cultural, tudo está deliberadamente presente nas produções culturais coreanas. O mesmo acontece na música. Os Idols da música pop, por exemplo, tem uma gigantesca indústria por trás de cada evento ou aparição. Cada foto de um membro da banda que aparece num Instagram, e que é compartilhado à exaustão pelos fãs, tem imediatamente a marca da sua roupa e de seus acessórios e tudo o mais que aparece na cena disponíveis para compra online, e isso inclui até o que você não vê como os cosméticos! Compras online hoje em dia atendem a um público global, ultrapassam fronteiras, são ganhos extraordinários para os países que souberem tornar seus produtos populares lá fora. Hoje o seu mercado pode ser o mundo inteiro!
Lá, o governo, empresários e políticos coreanos entenderam a equação do sucesso. Em 2005, o governo criou um fundo de US$ 1 bilhão voltado à cultura popular sul-coreana, que em 2019 isso já havia sido multiplicado para US$ 6,4 bilhões deliberadamente amarrados a outras estratégias, dando destaque a locais, eventos, costumes, criando tendências. Além de desenvolver produtos extremamente pensados e personalizados para cada público. Quem assiste as séries coreanas já notou que certos produtos marcam época, o que transparece as políticas de fomento implementadas.
Sem nos ater no certo ou errado do alto consumo que isso implica, imagine o quanto isso se reverte em aumentos de postos de trabalho na indústria nacional, no turismo e em serviços! Pense o quanto isso mobiliza a economia e consequentemente na demanda por aprimoramento profissional em qualquer ramo de atividade que você possa imaginar.
O Coreano está em alta, e ele sabe disso. Imagine o que isso representa em autoestima, ou o quanto resulta num olhar mais amoroso ao que lhe é familiar, suas tradições culturais.
Qualquer país só tem a ganhar com isso. Desenvolvimento nacional é uma questão de vontade política.
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