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O VALOR DA VIDA ESTÁ NO TEMPO QUE DESPERDIÇAMOS


 

Inacreditável nossas necessidades insaciáveis. 

Parece-nos tão natural que nossas vidas sejam regidas pelo mercado, por celebridades e estímulos da mídia social, pela ideia de produzir e consumir mais e melhor, hoje e amanhã, novas marcas, tecnologias, informação... Mas, onde, nisso tudo, está o valor da vida? Enquanto acreditamos que esteja inserido em cada uma dessas coisas, nos escapa o fato de que, o valor da vida está no tempo que continuamente desperdiçamos, seduzidos pela enorme produção industrial de bens, das artes, do lazer, gastronomia, até de conhecimento com prazo de validade vencido. E, nesse mundo globalizado, intenso, curioso e ciumento nos roubam cada minuto numa rotina insana de afazeres muitas vezes dispensáveis e vazios. Os excessos são tantos que até as instituições financeiras já apelam para comerciais que parecem verdadeiras realizações espirituais e promessas de felicidade eterna. 

Diante dessa urgência toda a insatisfação permeia cada dia mais as relações humanas como se não houvesse o bastante para todos. Se antigamente o bastante era apenas uma casinha branca para chamar de sua, comida e educação para os filhos, hoje é a última versão de celular, computador, carros, decoração, roupas, viagens... Até sexo deixou de ser algo para ser feito debaixo dos lençóis para ser um universo complexo de consumo de como, quando, quanto, onde, com quem, e muitas vezes impossível de acontecer naturalmente sem a ajuda de analistas, medicamentos, consultores de moda, cartão de crédito.

Pare o mundo! É preciso frear as demandas pessoais e deixar o tempo rolar pelos lados até ser capaz de reconhecer que não estamos presos ao mundo, nem somos reféns de sua ditadura de consumo e de coisa alguma. Temos que recuperar o tempo da vida simples onde o próprio tempo corria moroso, sem vergonha de ser feliz. Todo conhecimento disponível precisa ser usado para questionar os valores que nos tem sido impostos. Não é preciso descartar nossas grandes realizações, mas algo está faltando e é preciso olhar para trás e procurar o que de precioso deixamos pelo caminho.


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