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LINCOLN (o filme), O CONGRESSO BRASILEIRO, E ELEIÇÕES.


Quem já assistiu Lincoln?

O filme é bom, mas eu esperava mais. O filme narra a grande luta de Lincoln para a aprovação a Emenda Constitucional que extinguiria a escravidão. Dada a magnitude e importância de tal emenda eu esperava algo mais épico, mas ficamos às voltas com a negociata no congresso americano para conseguir os votos. A oferta de cargos para parlamentares foi o recurso utilizado para a aprovação de uma lei de genuína importância. 

Como assim? A MAIOR DEMOCRACIA DO MUNDO FOI CONSTRUÍDA COM BARGANHA?  O que parece natural que assim o fosse para a época nos parece bastante constrangedor agora, ou deveria ser... 

Embora não estivesse disposto a oferecer subornos em dinheiro, Lincoln autorizou que agentes contatassem os congressistas democratas com ofertas de empregos federais em troca de voto a favor da 13ª Emenda. Que o Estados Unidos da época precisasse dessa artimanha para aprovar uma ementa tão importante só serve para mostrar que foi quase um milagre o resultado da votação. Olhando com olhos de hoje nos parece insano que o mínimo do bom senso não permeasse a decisão a favor do homem livre.

Triste a constatação de que POLÍTICA se faça dessa maneira. Que cada parlamentar sempre vota segundo seus próprios interesses, quase nunca a serviço da nação. Essa é uma dura constatação ainda nos dias de hoje. Afinal, se a humanidade fosse capaz de votar sempre pelo bem comum, com base na consciência ética, na justiça... QUALQUER UM SERVIRIA. Isso mesmo. Qualquer pessoa seria adequada para exercer cargos do executivo ou legislativo. 

A humanidade já conquistou muitas coisas. Por exemplo, já é natural para nós que a invasão de outro país seja inadmissível, que escravidão seja aviltante, que guerras por fins religiosos sejam insanas, que casamento inter-racial deva ser uma escolha de amor, que todos devam ter igualdade de direitos, que é preciso desenvolvimento sustentável, etc. Então, nos parece intrínseco que o representante de uma nação deva votar pensando no BEM geral, acima de tudo. Mas isso está longe de ser verdade. O que chamamos democracia ainda não passa de uma luta de interesses mesquinha e de compensação imediata. 

Que nossos políticos sejam assim, é compreensível, não é mesmo? Não nos causa estranheza. Então, porque nos sentimos escandalizados quando descobrimos que eles não votam segundo a consciência, retidão, seriedade, dignidade, honradez, probidade? Palavras que espelham nossas mais altas expectativas, que é justamente o que eles nos vendem em época de eleição, e o que, ingenuamente, permeia a nossa decisão na hora voto. Ou deveria permear...

Eles sabem o que se espera deles, no entanto, sabemos que eles não estão à altura dessa responsabilidade. Em pleno ano de 2022 ainda desejamos melhorias no nosso país com políticos de 1800. Isso não soa estranho? Somos cobrados todo o tempo com a adequação dos novos saberes, das novas tecnologias, na nova ética, mas seguimos admitindo que política se faça de forma tão rudimentar. 

Se em 1800 era aceitável construir uma nação com manobras pouco honrosas e escambo, mais de 220 anos depois isso deveria apenas servir de enredo para um filme histórico.

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