Quer respostas para a sua vida? Você vive mergulhado em dúvidas, ansiedade? Quer saber como resolver um problema? Como realizar sonhos? Como vencer o mundo?
VÁ TRABALHAR NUM JARDIM... Arrancar mato!
E se prepare para esse evento revelador.
Escolha antecipadamente um terreno que mereça uma limpeza. Um terreno com boa variedade de mato e microclima diverso (áreas ao sol, áreas úmidas e sombrias, etc.) Acompanhe as previsões do tempo e se prepare para um bom dia nublado depois de uma forte chuva. Com suas dúvidas existenciais em mente, se prepare e se observe.
Você, com certeza, vai precisar de luvas e um carrinho de mão. Escolha tantas ferramentas quantas achar necessário. Não se preocupe com que técnica começar, somente comece. Pode ir ajoelhado no chão arrancando o mato por partes, ir de pé arrancando as maiores primeiro e depois as menores, sentado... Tanto faz! Porque, assim que começar, e se estiver se observando como deve, vai ver que sua mente vai instantaneamente e rapidamente analisando seu desempenho, a cada passo e para cada tipo de planta. O esforço, a técnica, a velocidade, os riscos de se ferir, etc. Vai avaliando a resposta do solo que você está encontrando. Se a planta sai fácil ou difícil, se você precisa puxar para o lado ou para cima, se ela quebra antes de sair do solo, se você precisa pegar mais na base, etc. São dezenas de variáveis que seu cérebro vai captando, analisando e comandando e tantas alternativas quantas ocorram ao seu cérebro experimentar. Enfim... ELE FAZ ISSO EM SEGUNDOS... Em pouco mais meia hora, se você se observou bem e deixou a mente trabalhar e fazer o trabalho dela de analisar, resolver problemas e comandar o corpo frente as várias tentativas e erros, você verá que estará empregando uma técnica precisa.
No meio daquela enorme variedade de plantas que você nem conhece, suas peculiaridades e infinitas estratégias de sobrevivência, você em poucos minutos aprendeu sobre cada uma delas e está empregando táticas diferentes e adequadas para cada tipo de planta que pega nas mãos. Verá que você logo sabe se a estratégia da planta é crescer rastejando e se espalhar rapidamente pelo solo, e por isso tem raízes curtas; ou se a estratégia da planta é crescer rápido para cima e ter uma raiz mais profunda; se a estratégia dela é ter um caule mais fino e resistente e subir rápido, ou se é ter um caule mais frágil, mas abrir ramas laterais.
Todas são estratégias de sobrevivência pelo espaço, nutrientes, e preservação da espécie. Todas são estratégias de vida para o sucesso da planta e seus descendentes. Mas, ainda assim, num equilíbrio que vai além da vontade dessa espécie, haverá condições para a preservação do equilíbrio do sistema como um todo, porque qualquer excesso de vantagens de uma espécie, e total domínio do ecossistema, vai resultar no fim da própria espécie.
Assim, se observando e o espaço a volta, você vai obtendo suas respostas.
Há plantas que expandem em ramos sobre a superfície e vão criando novas plantas para tomar espaço o mais rápido possível. Há plantas que descobrem que podem fazer isso pelas raízes, que vão percorrendo o solo e impulsionando novos brotos para romper a terra aqui e ali. Há plantas que fazem nascer nos extremos de suas ramas aéreas novas mudinhas que são gentilmente depositadas mais a frente e nutridas pela planta mãe até atingir a maioridade.
Tem plantas que vão produzir flores e frutos para deixar cair suas sementes ao solo. Tem aquelas que vão disponibilizar as sementes de forma que sejam colhidas por pássaros, ou que de tão leves, posam ser levadas pelo mundo ao sabor dos ventos. Há aquelas que de tão grande precisam de muito espaço, e que para isso lançam mão da estratégia de semear suas crias mais longe, para haver espaço para todos. Há aquelas que preferem soltar muitas sementes, milhares delas, porque é melhor semear muitas, já que poucas sobrevivem à fase adulta para garantir a reprodução (por infinitos fatores como clima e solo desafiadores, ou por serem parte da cadeia alimentar de outras espécies, de plantas ou animais).
Há diferentes estratégias para diferentes climas, solos, concorrência pelo espaço e nutrientes que inclui até desenvolver meios para tornar a vida dos concorrentes mais difícil, ou até eliminá-los de vez. Da simples estratégia de fazer sombra e criar um microclima escuro e úmido para seus oponentes, como depositar uma enormidade de folhas para sufocar adversários, com o beneficio de disponibilizar os nutrientes de volta ao solo.
Veja que, quanto mais você observa, mais detalhes aparecem nas centenas de milhares de estratégias desenvolvidas por centenas de anos de cada espécie. E elas vão se ajustando pelos anos vindouros e se adaptando e sobrevivendo.
Além de observar cada uma dessas estratégias, e ver quais podem ser as mais bem sucedidas se aplicadas também na sua vida. Você ainda nota que faz isso em segundos, e comanda o seu corpo para dar respostas cada vez mais eficientes no seu trabalho de capinagem manual.
Também percebe que não existe ferramenta melhor que as mãos e o cérebro para esse trabalho. Que muitas ferramentas ficaram no carrinho porque a parceria mão e cérebro são infinitamente melhores do que qualquer maquinário para um trabalho dessa natureza. Não existe uma máquina que faça o que o seu cérebro fez em parceria com suas mãos em apenas 30 minutos de avaliação. Pense nisso!
Enfim, podemos até usar ferramentas para facilitar o trabalho, mas nenhuma ferramenta será capaz de fazer o que suas mãos e cérebro fazem juntos.
Então, a primeira lição é que seu cérebro e mãos são as ferramentas mais precisas que existem na face da terra para lidar com os seus problemas. Valorize seu corpo.
A segunda: Deixe sua mente trabalhar... Você pode usar uma estratégia de uma planta para pensar soluções para a sua vida. Da mesma forma que uma planta se cerca de parceiros e concorrentes, assim também é a sua vida. Talvez você decida ser melhor minimizar esforços horizontais e tomar decisões verticais, para chegar mais rápido à luz. Talvez você entenda que é melhor formar uma base sólida, porque os mais frágeis somem rapidamente de cena. Talvez seja melhor você criar condições favoráveis para parceiros.
E a terceira, confie que pode achar a melhor solução, faça o que tiver que fazer, não pense demais antes de começar e ponha a mão na massa. Você é feito para se adaptar às mudanças no transcorrer do trabalho. Assim, focado do começo ao fim, logo terá um terreno limpo e pronto para plantar o jardim que quiser sonhar. Por fim, mas não menos importante: esteja certo de criar uma solução sustentável, que valorize a diversidade (para seu próprio bem e das futuras gerações), senão, já sabe, né?
Enfim, algumas horas no jardim e você aprende uma lição para toda a vida. Bora?!
foto: Nadine Doerlé
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