Pular para o conteúdo principal

A história de um gato


Havia um gato de rua, enorme, que de vez em quando aparecia lá em casa para filar alguma bóia. Eu o chamava de Gatão. Ele trazia no corpo as marcas de muitas lutas, algumas bem profundas. Já havia perdido parte da orelha e tinha o couro cascudo. De tão surrado parecia velho, mas era ainda bonito e forte. Sua personalidade transpirava dignidade e coragem. Logo que mudei para lá tive o (des) prazer de conhecê-lo, pois ele precisava mostrar ao meu gato Dengo (que nome infeliz, feito para apanhar) quem era o dono da rua. Resolvi a situação fazendo um trato com ele. Ele não batia no meu gato dentro do meu território (minha casa e jardim) e, em troca, ganhava comida. Um dia, da sacada da minha janela presenciei algo notável.O Gatão estava junto ao meu gato Dengo (que aprendeu rapidinho quem mandava na rua) na calçada do outro lado da rua. Algumas casas abaixo o vizinho soltou dois pastores para ficarem à rua um pouco. De cara imaginei o pior! Os cães, quando viram os gatos saíram em disparada na direção deles. O Dengo rapidamente atravessou a rua e correu para casa. O Gatão, não moveu um fio de pêlo sequer. Ficou ali parado, sentado, olhando os cachorros se aproximarem. Nunca vou entender o que se passou na cabeça dos cães, mas quando eles viram que o gato não correu, eles pararam no meio da rua e deram meia volta. Não sei se ficaram surpresos pela “não” ação inesperada do gato, ou se não acreditaram que aquilo estava mesmo acontecendo. Só lembro do gato, calmamente sentado, olhando para eles. Eu respeitava aquele gato. Por sua coragem eu até que gostava dele. Por isso, quando ele sumiu por algumas semanas fiquei preocupada. Fiquei tão preocupada que nem no cinema deixei de pensar nele. Para minha surpresa, quando cheguei em casa, já bem tarde, encontrei-o deitado no meu sofá. Nunca havia entrado em casa antes. Assim o fez porque precisava de ajuda. Estava muito ferido. O rosto transfigurado por uma bicheira erupcionada e abaixo do braço encontrei um grande corte inflamado. Aquele animal, que nunca tinha permitido que alguém o tocasse, permitiu que eu limpasse suas feridas. Arrumei um canto para ele na área de serviço. Chamei um veterinário amigo e cuidei dele por semanas, sempre me perguntando se ele passaria a morar conosco depois disso. Quando ele ficou bom, voltou para as ruas onde havia um reinado a ser defendido.

Ps. Eu não tinha fotos do Gatão. Procurando uma imagem na internet achei a foto acima que me deixou assombrada pela coincidência. O Gatão era também preto e branco, mas um pouco maior.

Comentários

Unknown disse…
É Pat, por isso sou apaixonada por felinos! Eles são especiais. Só quem tem gato e cachorro dentro do mesmo território, entende direito a relação do Garfield com o Odie. Adoro cachorro, mas eles são muito submissos. Já o gato é totalmente dono do seu nariz. Tem uma frase também, da Arca, que diz o seguinte: " Gato não é interesseiro, é interessante."
Fica aqui, uma homenagem a todos os gatos que já me possibilitaram uma vivência mais estreita com o mundo deles: Raimundo, Godofredo, Gaspar, Sofia, Zé, Penelope, Zé Manoel, Remela e Salim.
Beijos Pat, boa semana.
Viscondi disse…
Ei minha linda. Olha estou postando 2 fotos de Marcados para você, e também fotos de Praga. Uma delas é minha mesmo, quando estive por lá. OK?
um beijão.
PS.: eu amo seus comentários.
Anônimo disse…
olá pat
essa foto é sensacional!
mande pra cora ronai que ela vai adorar.
legenda:"comandante gato passando a tropa em revista"

bjs paulokunha
Anônimo disse…
Adorei o final da sua fábula, que voce nao contou lá no IM! Ele ter voltado para as ruas depois de curadas as feridas foi digno e nao mal-agradecido. Ele nao poderia ter tomado outra atitude, afinal, como voce bem disse "tinha um reinado pra cuidar!". Lind a história, adorei!
Beijoes,
Vanessa
Anônimo disse…
Pat... não parece, assim, metaforicamente, com algumas espécies masculinas?? Você cuida, protege e quando ele está bom, some!!! rsrsrsrs

beijão
Patricia kenney disse…
Flávia.
Adorei ser espaço para sua homenagem aos felinos da sua vida!
Patricia kenney disse…
Paulo, não sei de quem é a autoria da foto. Peguei na internet dando busca para Brave Cat. A lista onde há links para essa foto é enorme.
Patricia kenney disse…
Vanessa, seu post foi inspiração para o meu. Daí resolvi contar toda a história do Gatão. Ele já deve ter morrido, então, é uma lenda!
Sandra, tem homens que são mesmo uns gatos... rsrsrs
The passangerfua, você observou algo que merece mesmo maior reflexão.
abraço a todos.
Laura_Diz disse…
Que engraçado, eu nunca gostei muito de gatos, acho bonito e só. Ontem ao meio dia meu filho de 15 anos chegou com um gatinho, vou contar lá no blog hoje.
Linda sua história, fiquei comovida. Bom que conheceu Tagore através de mim, procure ler mais, tem coisas lindíssimas.
Oo comentário do Passenger merece nosso destaque :) bravo!!!
bj laura
Patricia kenney disse…
Laura,
Fui ler lá a história do gatinho e encontrei muito mais.

Denise, fico muito honrada pelo link. Obrigada

beijos à duas
pat
Viscondi disse…
Pat, abri um espaço no meu blog para links à respeito de como viajar mais barato, principalmente para a Europa. Gostaria que você desse uma olhadinha. Quem sabe te ajuda.
um abraço

Popular Posts

Blog para mim é...

Gostaria de falar um pouco o que descobri sobre a blogosfera nesses dois meses de blogagem do Pinkareta. O mais importante foi ter feito novos amigos. Diferente daqueles que conhecemos no bar, nas festas, no trabalho. Esses novos amigos eu não conheço pessoalmente. Raros são os que colocam fotos em seus Blogs, não que isso seja relevante. Sabemos que um mora em Brasília, o outro em Washington, outro em Porto Alegre e tem aquele lá no Canadá. Um é casado, outro tem filhos do primeiro casamento. Muitos são estudantes, outros sábios macacos velhos. De muitos poucos sabemos suas profissões, ou sua rotina de vida, seu poder aquisitivo. Isso não tem importância nenhuma, o que vale mesmo são suas palavras. Quando conhecemos alguém pessoalmente levamos horas, senão dias ou semanas, para conhecer o ser que habita aquele corpo, que nos seduz por sua beleza, ou nos é indiferente. Não porque somos realmente levianos, mas porque precisamos avaliar o território antes de nos expor tanto. Mas, quem te

O melhor de dois mundos.

Levei muito tempo para descobrir a delícia de tricotar com uma amiga. Nessa vida sempre estive em companhia dos homens ou sozinha. Cresci no campo, cercada de silêncio. Minha mãe (minha amiga) sempre foi uma mulher prática. Nunca a vi perder horas se arrumando, nem se permitindo luxos femininos. Maquiagem passou ao largo. Meus irmãos, homens, eram minhas melhores companhias, ou melhor, os amigos dos meus irmãos. Minhas lembranças solta no mato são de muita conversa interior, profunda comunhão com a natureza, ou brincadeiras de polícia e bandido no bosque, escaladas de árvores e morros,  Mountain bike (quando isso nem existia de fato), montaria e jogo de futebol americano no campo da Coudelaria do Exército, que ficava vizinho à chácara.  Sempre cercada de moleques, eu era boa de luta. Não porque fosse truculenta, mas porque, pequena e franzina, eu me dava o direito de fazer cócegas, dar umas mordidas ou puxões de cabelo. Muito justo já que não podia ganhar pela força bruta. Eu era uma